O cântico da esperança

Na oração do angelus, do dia 15 de agosto de 2022, o Papa Francisco afirmou que o Magnificat é um cântico de louvor que poderíamos definir “o cântico da esperança”. Nele, com grande realismo, a Virgem Maria exulta de alegria pelas maravilhas que o Senhor realizou na sua vida e contempla a obra de Deus em toda a história do seu povo. Do seu canto, com beleza, transborda uma imensa gratidão orante, nascida da ação do Espírito Santo, que A inspira interiormente e que A guia na vida concreta.

 Maria não entregou a sua vida a um deus distante, imaginário, insensível, desconhecido, feito à medida do homem. Ela pertence totalmente ao Santo de Israel, ao Deus que é Emanuel, ao Deus que é Amor infinito. Por essa razão, a Virgem agradecida louva o Deus da esperança, que A escolheu e que n’Ela construiu a mais santa das suas moradas. Ela reconhece a abundância da generosidade de Deus e, ao contrário do servo preguiçoso, que escondeu num lenço os dons recebidos (cf. Lc 19,20), transborda de esperança e de fidelidade, de alegria e de fé. Na verdade, na alegria transbordante da Virgem transborda o próprio Deus, como o dom mais precioso que Ela partilha, porque n’Ela tudo é para glória de Deus. 

Maria, no seu cântico de louvor, recorda as maravilhas operadas por Deus ao longo da história da salvação. Dentro dessa história, Ela agradece de forma especial a sublime maravilha de ter sido escolhida para receber a Encarnação de Cristo, a quem os seus conterrâneos chamarão «o Filho de Maria» (cf. Mc 6,3). Por isso, a Serva do Senhor recorda a promessa feita a Abraão e à sua descendência e reconhece, nos acontecimentos concretos da sua vida, o cumprimento dessa promessa. A sua esperança entrou no grande caudal de esperança, que animou tantas gerações, até chegar a Cristo, que Ela deu à luz, cumprindo as Escrituras.

O louvor da Mãe do Senhor é um testemunho profético, que percorre todas as gerações, de que a esperança verdadeira não engana e não desilude. O Deus Santo nunca engana aqueles que aceitam a sua vontade e a cumprem com generosidade. A promessa de um futuro de esperança não pertence ao passado, não está fechada numa época histórica e não é um fatalismo guiado pelo destino. Deus garante-nos um futuro de esperança, principalmente nos momentos em que, tantas vezes, parece não haver esperança e não haver futuro. Assim cantou Maria, no seu cântico de esperança. Assim devem cantar os peregrinos de esperança, neste ano jubilar.

P. João Paulo Domingues Quelhas

Capelão do Santuário de Fátima – Portugal

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