A fundamentação Bíblica da Consagração a Maria

O Concílio Vaticano II (1962-1965) fez uma escolha ‘bíblica’ tratando a questão de Maria não num documento à parte mas dentro do documento sobre a Igreja. Isto levou-nos a duas obrigações: não se pode falar da Igreja sem falar de Maria e não se pode falar de Maria sem falar da Igreja. Resumindo: a Mãe de Jesus é um elemento essencial para a Igreja.

São Paulo VI, em 1970, disse:

«Se queremos ser cristãos, temos de ser marianos, isto é, devemos reconhecer a relação essencial, vital, providencial que une Nossa Senhora a Jesus e que nos abre o caminho para O conhecer».

Portanto, a Igreja Católica Romana é convicta de que Maria de Nazaré, a Santa Mãe do Senhor não é o centro mas é central na fé cristã. Acolher a Mãe de Deus é responder à pergunta que Jesus faz aos seus discípulos:

«Mas vós quem dizeis que eu sou?» (Mc 8,29; Mt 16,15; Lc 9,20)

A interrogação de Jesus encontra nos versículos em João 19,25-27a

«junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”»,

uma identidade do testemunho bíblico mais evidente em favor da dimensão ‘mariana’ da nossa fé em Cristo.

Trata-se do testamento de Jesus que diz à Mãe: «eis aí o teu Filho» e ao discípulo «eis aí a tua mãe»

«eis aí o teu Filho» e ao discípulo «eis aí a tua mãe»

Maria está junto, ao lado, próxima ao Crucificado, juntamente com outras mulheres e com o discípulo amado. Eles representam o resto da fé de Israel que abraça a tragédia do Calvário no paradoxal amor de Deus.

No monte da morte vemos o sacrifício do Filho mas também existencialmente o sacrifício do amor materno. (Compaixão)

Além de todas as interpretações de amor filial querendo deixar Maria entregue ao discípulo existe uma profunda intenção teológica

Intenção profunda do Salvador Universal

Jesus é o exegeta do Pai:

«ninguém jamais viu Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou [ἐξηγήσατο]» (Jo 1,18)

Jesus revela perfeitamente a vontade do Pai ao mundo e é o porta-voz cheio do Espírito Santo.

Na cruz nós encontramos uma dupla exegese (revelação) de Jesus:

Jesus revela à Mãe e ao discípulo:

[Mãe] Todos os discípulos são seus Filhos

[Filho] A Maternidade de Maria é universal

Estas palavras, particularmente comoventes, constituem uma cena de revelação pois revelam os profundos sentimentos de Cristo moribundo e contém uma riqueza de significados para a fé e para a espiritualidade cristã. O Messias crucificado estabelece as novas relações de amor entre Maria e os Cristãos.

Jesus é o profeta do Pai

Vê – diz – Eis – Revelação

Jesus vê a Mãe

 | declara : Eis o teu Filho

 | Jesus vê o discípulo |

declara: Eis a tua mãe | 

Esta é uma revelação, mas qual é o objeto? Responde São João Paulo II: 

scípulo mas o Discípulo a Maria dando-lhe uma nova missão de maternidade»

Porquê Maria?

Se tomarmos a Escritura como um todo, em Maria é reconhecida a figura de Nova Sião, Nova Jerusalém, Mulher-Esposa do senhor, a Mulher e Mãe universal. No Calvário, o Filho cria a Mãe pois Jesus como Deus cria aquilo que diz, não fossem as suas palavras Espirito e Vida:

(Jo 6,63) 

«o espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida»

Neste sentido Maria é constituída Mãe espiritual do discípulo, e o discípulo é constituído filho espiritual de Maria 

Comenta São João Paulo II:

«Jesus funda com aquelas suas palavras o culto mariano da Igreja, à qual faz entender a sua vontade que Maria receba um sincero amor filial da parte de cada discípulo, do qual é Mãe por instituição de Jesus»

Qual a resposta do Discípulo?

Como responde o discípulo amado ao testamento do Mestre moribundo?

O Evangelista escreve o seguinte: 

«A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu» (Jo 19,27b)

o texto original diz: entre as coisas próprias. Numa tradução moderna poderíamos dizer: recebeu-a na sua intimidade! Parece uma expressão simples mas será o texto do Evangelho algo desprovido de significado?

Pensemos que é a última vontade de Jesus terreno antes de ir para o Pai, no Evangelho de João!

Como disse São João Paulo II: 

«Confiando-nos filialmente a Maria, o cristão, como o apóstolo João, acolhe ‘entre as coisas próprias’ a Mãe de Cristo e a introduz em todo o espaço da própria vida interior, isto é no seu ‘eu’ humano e cristão: a tomou consigo! É a comunhão de vida que se estabelece entre ambos graças a Cristo»

Procurando uma tradução:

  • «entre as coisas próprias»: significa uma pertença ou propriedade de caráter moral religioso espiritual muito pessoal é o que indicam outras passagens no Evangelho de João que indica esta mesma expressão.
  • «recebeu-a em sua casa»: esta tentativa de tradução não exprime o sentido do texto, ou pelo menos, não esvazia o sentido do texto dada a densidade teológico-espiritual que se ergue muito acima de um mero sentido logístico!
  • «recebeu-a num espaço interior»: esta união de fé com Cristo cria o ambiente vital para acolher a herança do Mestre que são o Espírito e Sua Mãe que é recebida não por escolha do discípulo mas por integridade da fé.
  • Uma casa espiritual: são João Paulo II no seu magistério encoraja-nos a ACOLHER MARIA na própria vida, no vosso coração, na vossa vida, na casa da nossa vida, fé, afetos e tarefas, na casa do Sacerdócio sacramental, na casa interior do nosso sacerdócio batismal.

A resposta de Bento XVI

São João, o filho predileto, tomou Maria ‘na  ́ própria casa’. Assim é na tradução; mas o texto grego é muito mais profundo, muito mais rico. Poderíamos traduzir: tomou Maria no íntimo da sua vida, do seu ser, eis tà idia, na profundidade do seu ser. Tomar consigo Maria, significa introduzi-la no dinamismo da inteira existência – não é uma coisa exterior – e é em tudo isso que constitui o horizonte do apostolado.

Papa Francisco

Estas palavras de Jesus na iminência da morte, não exprimem em primeiro lugar uma preocupação de compaixão para com a Mãe, mas sobretudo uma fórmula de revelação que manifesta o mistério de uma especial missão salvífica. Jesus nos deixa sua mãe como nossa mãe. Só depois de ter feito isso Jesus pôde sentir que ‘tudo era consumado’ (Jo 19,28). Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo nos conduz a Maria. Nos conduz a ela porque não quer que caminhemos sem uma mãe, e o povo lê naquela imagem materna todos os mistérios do Evangelho. Ao Senhor não é agradável que lhe falte à sua Igreja uma figura feminina.

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