Maria, a última ouvinte das sete palavras de Jesus

Introdução

Maria ouve as sete últimas palavras de Jesus. Maria consumou a sua experiência como discípula, esteve aos pés do Mestre, que agora se eleva à mais alta cátedra do mundo, para ouvi-lo até o último suspiro. Assim, ela ouviu suas últimas sete palavras, com as quais marcou sua agonia messiânica.

Primeira palavra: Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem (Lc 23,33-34)

Ninguém – nem sob a Cruz, naquele dia, nem depois, no decorrer de toda a história da salvação – acolheu com maior amplitude de coração e compreendeu com mais inteligência de fé do que Maria. Ela, como mãe no cujo seio se encarnou a paz, que é Cristo (cf. Ef 2,14), participou do evento do perdão máximo que foi celebrado na Cruz. A Virgem-Mãe permitiu a experiência do perdão do Crucificado, explicitada apenas pela palavra dirigida ao bom ladrão (cf. Lc 23,43), pois Cristo na Cruz exerce a caridade do perdão em uma perspectiva universal e escatológica: Maria, maternalmente, permite a celebração deste perdão com a linguagem objetiva do silêncio.
O perdão cria uma interrupção nas malhas da lógica do pecado e da punição correspondente, introduzindo, no intervalo entre um e outro, a realidade recriadora e curativa da misericórdia.
Maria está, consentindo e participando, no lugar onde o perdão é celebrado como lei da nova criação que nasce sob a árvore da Cruz. Maria, diante da questão do perdão, racionalmente insolúvel, não oferece razões, mas indica um lugar: está sob a Cruz, acompanhando Cristo que, na Cruz, consagra o perdão como lei da aliança selada pelo seu sangue
O estar e o caminhar de Maria devem se tornar o objeto significativo da mariologia, a qual hoje tem diante de si a grande possibilidade de descobrir, indicar lugares, identificar presenças, discernir companhias, reconstruir trajetórias feitas por Maria em sua história de Mãe messiânica, postergando (não eliminando) o típico exercício teológico de refletir e deduzir.

O evento do perdão na Cruz vê Maria envolvida em sua maternidade

Também por isso o perdão é uma realidade maternal. Como se vê, Maria é uma mulher de perdão em um sentido muito forte e essencial. No sentido de que colaborou para inserir o princípio do perdão na história humana, com o efeito de que esta fica estruturalmente qualificada por ele. 
Ela ajudou a inscrever no céu da história da salvação a Palavra do perdão como lei de vida. Ao participar dessa transformação da história, Maria empenhou sua maternidade virginal, pois expressou a confiança típica da mãe ao confiar no Filho. A Virgem arriscou totalmente sua vida de Mãe na palavra e na ação do Filho, apesar da evidência contrária manifestada no fracasso da Cruz.
Uma mãe que nutre uma confiança incondicional em seu filho nunca pode estar errada, mesmo quando, aos olhos de um observador externo, os fatos não parecem justificar essa confiança. É antes o filho que está errado ao desmentir a fé de sua mãe.

Segunda palavra: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino […] Hoje tu estarás comigo no Paraíso (Lc 23,39-43)

O total abandono do ladrão a Cristo e sua convicção de que Ele seria Reino e que a entrada neste dependia d’Ele, maravilham pela maturidade de fé do ladrão. Quem melhor compreendeu a invocação deste co-crucificado do Filho é certamente a Fiel, aquela que vive perpetuamente mergulhada ao máximo na lógica da fé. Ela sabe que só com uma abordagem de fé pode estar, ela sob a Cruz e o ladrão ao lado do Filho sobre a Cruz. Seu silêncio participativo é um consentimento alegre também à exclamação deste redimido da primeira hora cristã. No Gólgota, um episódio que poderia parecer insignificante ilumina a messianidade real de Jesus. 
Um dos dois malfeitores crucificados junto com Jesus manifesta esta verdade de modo penetrante, ao dizer: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino (Lc 23,42). O bom ladrão é biblista e teólogo: 

  • biblista porque sabe se conectar a toda a tradição do messianismo real em direção a Jesus; 
  • teólogo porque sabe referir este título da realeza a Jesus dentro do evento menos capaz de evocar a realeza, quando Ele está morrendo na Cruz com a morte não de um rei, mas de um escravo.

Na verdade, é um ato teológico deduzir na fé que o Reino último e celeste pertence a Jesus e que Ele dispõe do acesso a ele. Jesus imediatamente valida essa dedução teológica feita pelo bom ladrão, respondendo-lhe: Em verdade te digo, tu hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43). É significativo o que Papa Wojtyla observa em comentário: «neste diálogo encontramos quase uma última confirmação das palavras que o anjo dirigiu a Maria na Anunciação: Jesus ‘reinará… e o seu reino não terá fim’ (Lc 1, 33)».De fato, na Cruz, a fé de Maria é desafiada: a Palavra dirigida a ela na Anunciação prometia que ela se tornaria mãe de um rei. O Anjo lhe disse: «Deus lhe dará (a Jesus) o trono de Davi […] e o seu reino não terá fim» (Lc 1,32-33).
Na Cruz, há a negação humana disto: ela assiste à morte servil do Filho e ouve, com coração doloroso, as suas últimas palavras. A Deus ela jurou a fidelidade de seu Fiat em resposta às palavras do Anjo que lhe propunham a maternidade messiânica. É ao Pai que ela deve perguntar, em seu coração, o sentido da profecia sobre a realeza de Cristo, recebida na Anunciação e aparentemente contradita pela Cruz. 

Assim também, considerando a presença do Pai atrás da Cruz, pode entender o caráter dialógico desta, Maria, interpretando-a como lugar do diálogo entre o Pai e Cristo, que, ao mesmo tempo, é Filho do Pai e seu Filho.

Terceira palavra: «Mulher, eis aí o teu filho […] Filho, eis aí tua mãe» (Jo 19,25-27)

Sob a Cruz, a ouvir a terceira palavra de Jesus está Maria: estas palavras lhe dizem respeito de maneira direta e particular. Sua presença é a de uma mulher que estava prestes a perder seu filho. Todas as fibras do seu ser estavam abaladas pelo que tinha visto nos dias que culminaram na paixão, pelo que sentia e pressentia agora, ao lado do patíbulo. 

«Mulher, eis aí o teu filho» (Jo 19,26)

A primeira palavra de entrega de Jesus («Mulher, eis aí o teu filho…») indica um ato de ternura e de piedade filial. Jesus não quer que sua mãe fique sozinha. Em seu lugar, deixa como filho o discípulo que Maria conhece como o predileto. Jesus confia, assim, a Maria uma nova maternidade, e pede que trate João como seu filho. 
Mas essa solenidade do encargo (Mulher, eis aí o teu filho), que se coloca no coração do drama da cruz, essa sobriedade e essencialidade de palavras que parecem de uma fórmula quase sacramental, fazem pensar que, acima das relações familiares, o fato deve ser considerado na perspectiva da obra da salvação, onde a mulher-Maria foi comprometida com o Filho do Homem na missão redentora. 
Ao concluir essa obra, Jesus pede a Maria para aceitar definitivamente a oferta que Ele faz de si mesmo como vítima de expiação, considerando agora João como seu filho. É ao preço do seu sacrifício materno que ela recebe essa nova maternidade. 
Com a segunda palavra de entrega que Jesus pronuncia (Filho, eis aí tua mãe), Jesus pede expressamente ao discípulo João que se comporte com Maria como filho para com a mãe. Ao amor materno de Maria deverá responder um amor filial. Já que o discípulo substitui Jesus junto a Maria, é convidado a amá-la verdadeiramente como a sua mãe. É como se Jesus lhe dissesse: Ama-a como eu a amei. E, visto que, no discípulo, Jesus vê todos os homens, aos quais deixa esse testamento de amor, vale para todos o pedido de amar Maria como mãe.
O Evangelho afirma que João acolheu Maria entre as suas coisas. Esse gesto de João era a execução do testamento de Jesus em relação a Maria: mas tinha um valor simbólico para cada discípulo de Cristo, agora convidado a acolher Maria junto de si e a fazer-lhe espaço em sua vida.

Porque, em virtude das palavras de Jesus moribundo, toda vida cristã deve oferecer um espaço a Maria, não pode excluir a sua presença. Jesus com aquelas suas palavras, fundava a presença mariana no culto da Igreja, fazendo entender sua vontade de que Maria receba de cada discípulo, do qual ela é mãe por instituição de Jesus, um sincero amor filial. A importância de Maria no culto, sempre desejado pela Igreja, é deduzida das palavras pronunciadas por Jesus no momento da sua morte.

Quarta palavra: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mc 15,33-39) 

A narrativa bíblica, que relata o grito que, junto ao Templo, partiu a história em dois: um tempo antes e depois de Cristo, deveria arrepiar cada vez que é contada. «e à hora nona, Jesus exclamou em alta voz: Eloí, Eloí, lemá sabactáni?» (Mc 15,34). Este é um grito tanto interrogativo quanto de resposta. 
É um grito muito forte, que revela a intensidade do sofrimento mais íntimo, demonstra que a Paixão não é apenas um espetáculo assustador, mas uma tragédia que atinge o fundo do coração do Salvador crucificado. É uma áspera e dilacerante didascália que indica a profundidade, a altura e a vastidão também do sofrimento humano vivido por Ele na Cruz, e impede qualquer interpretação romântica da morte de Jesus. 
É um grito teológico, Jesus cita o Salmo 22, mostrando a consciência de estar em um momento decisivo de sua obra messiânica. Diante dessa expressão, de densa teologia trinitária, Maria se posiciona com sua altíssima inteligência de Fiel. Ela intui bem a trágica perturbação que o evento da Cruz trouxe humanamente na misteriosa relação do Filho com o Pai, consolando-o imensuravelmente com sua presença, e nos lembra, com o Stabat Mater, que o abandono por Deus deve ser interpretado como ato de presença.

Maria interpreta teologicamente o grito da nona hora

Ela é uma intérprete ou exegeta refinada da Palavra de Jesus, inclusive daquela proclamada no ápice da hora, e também é uma teóloga perspicaz por saber interpretar as grandes obras de Deus narradas pela Escritura (Magnificat) e as palavras da Primeira Aliança e aquelas ouvidas de Jesus, aplicando-as à sua vida. 
Da mesma forma, quando ouve o grito de Jesus na Cruz, sua alma ecoa o que Jesus lhe tinha dito em Jerusalém no Templo anos antes, no momento do encontro: «não sabíeis que me cumpre tratar das coisas de meu Pai?» (Lc 2, 49). Na Cruz, Jesus fala somente teologicamente, pois ao se apropriar desse texto (Salmo 22), Jesus mostra que sua primeira preocupação é a obediência ao Pai. Assim, o abandono não é um mero incidente devido às circunstâncias da prova, mas pertence ao sacrifício como foi desejado pelo Pai.
Se na Cruz Jesus fala somente teologicamente, sob a Cruz, Maria interpreta as palavras do Filho apenas teologicamente. No Templo, ela as havia entendido psicologicamente, «filho, por que agiste assim conosco? Eis que teu pai e eu, angustiados, te procurávamos» (Lc 2,48). A resposta de Jesus a Maria e José foi surpreendente: «por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?» (Lc 2,49).
Registra o evangelista Lucas que Maria e José «não compreenderam as palavras que lhes dissera» (Lc 2,50). No Templo, Maria mostrou-se uma discípula atenta, entendeu que Jesus a chamava a usar com Ele abordagens e registros teológicos. Sob a Cruz, Maria não levanta objeções ao Filho Mestre, embora a lição que Ele dava fosse de extrema dificuldade e sua compreensão e decifração fossem enormemente maiores.
Mas, sob a Cruz, a discípula é agora uma teóloga madura. Maria interpreta o grito messiânico de Jesus, que ela ouviu e consentiu, não como um grito de desespero, que alteraria a relação paternal de Deus com Jesus, mas como um grito de abandono e união de Jesus com o Pai, que não pôde perder nada de sua paternidade no drama da cruz. Antes, devemos reconhecer que o Pai se envolveu como Pai cheio de compaixão no teste do sacrifício derradeiro.

A Fiel entrega o Filho de volta ao Pai

A palavra que completa o consummatum est é o último encargo do Filho paciente e moribundo a Deus: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,44-46). São as palavras que consagram a condição de Jesus na Cruz, aquela de confiado ao coração do Pai, de entregue às suas mãos, de oferecido à sua glória. Jesus na Cruz indica a toda a família humana que a direção da salvação é aquela que mira e leva ao coração do Pai. Ele afirma assim decifrar a Cruz como um nó de misteriosas entregas, de sinal diverso, que sobre ela e ao redor dela estão misteriosamente ativas. Cristo é o novo Jó, não suspende a sua confiança no Pai, nunca, nem mesmo à beira da morte.

O abandono de Jesus assume um novo significado

Ele não entra no reino do além com a escuridão no coração: está ciente de deixar a noite para ser introduzido na luz. A resposta ao porquê? é perfeita.
O grito messiânico do Crucificado eleva-se no contexto de três misteriosas entregas: 

  • a entrega do Filho que oferece a sua vida pelos homens (cf. Gl 2,20; 1 Tm 2,6; Tt 2,14); 
  • a entrega do Pai que doa o Filho pela salvação do mundo (cf. Jo 3,16; Rm 8,32);
  • a entrega do Espírito que é oferecido da Cruz sobre o mundo (cf. Jo 19,30). 

Maria também se junta a essa dinâmica das entregas como Abraão e mais do que Abraão, ela também entrega o Filho de volta ao Pai, com a mentalidade da Fiel: Deus mo-lo deu, a Ele o re-entrego. E como Abraão, à pergunta que se fazia subindo o monte Moriá (De quem é Isaac?) respondeu: é de Deus, assim Maria no monte Calvário à pergunta (De quem é Jesus) respondeu: É do Pai, e a Ele o re-entrego.

Maria ouve o grito virginal de Cristo

Assim, percebemos a virgindade da morte, ou melhor, a virgindade do grito do Moribundo e de Maria que o escuta, o acolhe e faz seu aquele grito virginal. O grito messiânico de Jesus é de fato virginal porque é o grito de quem confia no Pai, não se apoiando nem nos homens, os quais são a causa daquele grito, nem na lógica dos homens, a lógica humana não compreende nem a Cruz nem o grito do Crucificado. Deus, somente Deus: é a virgindade da morte sacrificial de Cristo que torna sacrificial e virginal toda morte humana.

Escutemos com Maria aquele grito 

Maria ouviu o grito do Crucificado ao Pai e é de se pensar que, além do tormento humano que pode ter causado nela, tenha produzido uma abertura em sua consciência de Mãe messiânica. Aquele grito deve ter ajudado Maria a compreender o sentido da morte trinitária de Jesus, a situação extrema de sua vida de Verbo encarnado chegando ao ápice do confronto agonístico com Satanás pela redenção de toda a história e de toda a criação. A sua condição martirial e a repercussão desta dentro da Comunidade trinitária. 
O grito de Jesus na Cruz é um grito dolorosíssimo, mas ainda assim um grito de amor, ele  embora seja uma voz inarticulada, como sempre é um grito, é um grito filial e contém uma revelação conjuntamente trinitária e mariana.

Quinta palavra: «Tenho sede» (Jo 19,28-29) 

Com essa quinta frase na cruz, após as três horas de abandono, Jesus pede algo para beber. Mas não é apenas por isso que Ele diz: Tenho sede. Na cruz, como ao longo de toda a sua vida, Jesus realizou a profecia: «deram-me fel por alimento, e na minha sede deram-me a beber vinagre» (Sal 69,21). Tendo completado a obra, Jesus olha além, de modo que a sede que sente evoca o desejo intenso da alegria da presença de Deus: «ó Deus, tu és o meu Deus, eu te busco sinceramente; a minha alma tem sede de ti» (Sal 63,1). 
Sua sede é projetada para a iminência do Reino, onde em breve desfrutará da comunhão completa com seu Pai e com os seus. Ele disse: «tenho sede» para poder tornar-se a fonte de água viva para todos aqueles que confiam nele. Ele oferece hoje ao mundo a água viva da salvação que adquiriu para nós que estávamos distantes de Deus (Jo 4,14).
É de se pensar que o tenho sede não tenha sido dito por Jesus à indiferença da Mãe que o escutava, nem que Maria tenha ouvido sem tentar penetrar no sentido dentro da obra messiânica de Jesus, nem sem referência ao seu relacionamento com Cristo. 
Deve ter tido um eco lancinante nela já a solicitação angustiante de água para aplacar sua sede agonizante: Maria sob a Cruz não é uma Mãe fictícia, mas verdadeira, primeiramente biológica e psicologica. E como Mãe messiânica, altíssima é a sua compreensão do «tenho sede» de Jesus porque, após Jesus, ela é a criatura que mais tem sede de Deus e dos homens, além de ser aquela que, mais do que todos, colaborou e colabora com Jesus para extinguir essa sede redentiva e salvífica.

Sexta palavra: «está consumado(Jo 19,30) 

Estas palavras manifestam a sua consciência de ter executado até o fim a obra pela qual foi enviado a este mundo (cf. Jo 17,4). Note-se que não é tanto a consciência de ter realizado projetos próprios, mas de ter executado a vontade do Pai em obediência levada até a completa imolação de si mesmo na cruz. 
Jesus moribundo aparece-nos como o modelo do que deveria ser a morte de cada homem, isto é a conclusão da obra atribuída a cada um para o cumprimento dos desígnios divinos. Segundo o conceito cristão da vida e da morte, os homens são chamados até o momento da morte a cumprir a vontade do Pai, e a morte é o último ato, o definitivo e decisivo, do cumprimento dessa vontade.
Jesus nos ensina isso a partir da cruz. A expressão «está consumado» de Jesus é a exclamação de sua fidelidade ao Pai, pode dizer, no final, que cumpriu todo o projeto messiânico, que satisfez plenamente a vontade de seu Pai.

Como terá vibrado a alma de Maria ao ouvir a palavra conclusiva da existência do Filho? 

Só Deus sabe, mas também nós podemos imaginar algo se pensarmos que ela, como Mãe messiânica, conheceu mais do que todos a ansiedade de Jesus de realizar o plano do Pai, sua vontade de cumprir a missão a ele confiada e de levar os homens à salvação. A percepção fiel do sentido pleno daquele está consumado foi ainda mais forte nela porque tinha sido destinatária privilegiada e sujeito colaborativo de Cristo na realização desse plano salvífico, que na Cruz Jesus concluía.

Sétima palavra: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46) 

A sétima expressão de Jesus na Cruz conclui assim: «e inclinando a cabeça, entregou o espírito» (Jo 19,30). Segundo o Evangelho de João, Jesus pronunciou estas palavras pouco antes de expirar. É comovente pensar que, dentre as muitas ditas por Jesus durante sua existência messiânica, estas tenham sido as últimas.
Também por isso, terão comovido Maria de uma forma muito forte. Foram as últimas. De Jesus, o evangelista

  • João diz que παρέδωκεν τὸ πνεῦμα (parédōken to pneuma) «ele entregou o espírito» (Jo 19,30);
  • Mateus que ἀφῆκεν τὸ πνεῦμα (aphēken to pneuma) «ele deixou sair o espírito» (Mt 27,50);
  • Marcos que ἐξέπνευσεν (exepneusen) «ele expirou» (Mc 15,37);
  • Lucas que παρέθετο τὸ πνεῦμα (paretheto to pneuma) «ele entregou o espírito» (Lc 23,46). 

Jesus abre o caminho para a plenitude da visão beatífica na Trindade

Nesta luz da eternidade, pode-se captar algo do misterioso relacionamento entre a humanidade de Cristo, que Ele recebeu de Maria, e a Trindade. Em cada passagem da Paixão, Maria está vitalmente implicada porque nela se deu concretamente o princípio redentivo de Tertuliano (m. 240) caro cardo salutis (a carne é a chave da salvação), mas nela também se deu o princípio da ressurreição e da glorificação eterna de Jesus e daquela misteriosa condição que o Filho para sempre encarnado levou para o seio da Comunidade trinitária: a vida eterna para a humanidade.

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