A Virgem Santa Maria no Cenáculo – Análise dogmático-litúrgica

No Cenáculo Pentecostal os discípulos são cheios do Espírito Santo prometido por Jesus durante a ceia pascal no mesmo lugar. Nesta missa Maria é celebrada como:
– virgem cheia do Espírito;
– modelo da Igreja orante;
– modelo de harmonia, comunhão e paz;
– docilidade à voz do Espírito;
– vigilância na espera da volta do Senhor.

O substantivo muito familiar ‘cenáculo’ está ausente de qualquer texto bíblico. Faz fronteira com o acontecimento básico da ceia pascal de Jesus com os discípulos, aquela ceia consumida no grande salão do andar superior da casa de um amigo, decorado com tapetes (Mc 14,15; Lc 22,12). A partir de então, aquela espaçosa sala tornou-se:

  1. o refúgio isolado dos discípulos, onde Jesus ressuscitado os encontra reunidos (Mc 16,14; Jo 20,19,26); 
  2. depois a casa comum da igreja primitiva, onde a identidade e a organização foram amadurecendo (At 1,3); 
  3. finalmente, uma varanda aberta ao mundo, de onde irradiam o Evangelho (At 2,14).

Naquele “cenáculoencontramos novamente aqueles que estiveram com Jesus desde a primeira hora: os apóstolos nomeados um a um (falta o infeliz Judas), alguns discípulos muito fiéis como José chamado Barsabás e Matias (Atos 2:23 ), um grupo de familiares, algumas mulheres e pessoalmente Maria mãe de Jesus, são aqueles que compartilharam com o Senhor naquele mesmo venerável lugar a ceia final, horas de vida durante a ‘Quaresma Pascal’ (os quarenta dias de encontro com Ressuscitado), o acontecimento desconcertante da sua elevação ao céu, onde se assentou à direita de Deus (Mc 16,19; Lc 24,51; At 1,9).

Nessa espécie de apelo da ‘Igreja nascente‘, o hagiógrafo destaca as mulheres e os familiares de Jesus, com os apóstolos presenças eclesiais indispensáveis. Parentes de Jesus haviam articulado uma consideração diferenciada: aqueles que o rotulavam como um aventureiro a ser mantido à distância ou de quem se distanciar, aqueles que o apreciavam como um mestre a seguir (só estes o seguiram até o ‘cenáculo’). As mulheres pareciam ser as mais constantes e fiéis: nunca abandono ou deserção, sempre prestativas e amorosas. Esta era a ‘Igreja do Cenáculo’.

O Cenáculo é o espaço histórico da Igreja primitiva e símbolo de todo futuro eclesial. O Cenáculo reunira os seguidores de Jesus, só Maria estava sempre com Ele, desde a concepção em Nazaré até a cruz do Calvário. Era uma presença induzida pelo amor materno natural espontâneo, mas também por uma crescente consciência de fé e confiança. Jesus amplia a nosso favor os espaços de presença junto a Ele, espaços que podem ser habitados por quem conhece e vive a Palavra de Deus. No espaço dessa proximidade, Maria se destaca: é a mãe que acolhe a Palavra que se faz carne no seu seio, é a serva do Espírito Santo, disponível para cumprir a sua palavra. Maria é o modelo da Igreja no Cenáculo.

Maria no Cenáculo participa da reconstituição da comunidade de Jesus: uma comunidade unida na fé e assídua na oração, na qual se constitui o novo Reino. No Cenáculo Jesus já não está com os discípulos: 

1 – está neles para que sejam perfeitos na unidade (Jo 17,20);

2 – está no meio deles porque ali está dois ou três reunidos em seu nome (Mt 18,20);

3 – está diante deles porque eles foram ensinados a esperar pelo seu retorno (Atos 1,11). 

No Cenáculo ninguém é protagonista isolado, nem mesmo Maria: todos compartilham a fraternidade discipular, cada um colocando a própria fé, esperança e caridade a serviço do novo Reino: sua identidade evangélica renascida no Pentecostes. 

O que aconteceu então, continue e seja realizado para nós hoje.

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