Pedro de Alexandria (m. 311)

O que é um Padre da Igreja?

O nome honorífico de Padres da Igreja é dado a alguns grandes teólogos que não se limitaram apenas à apologética, mas propuseram como seu principal objetivo o aprofundamento teológico da herança da fé, com base na revelação. A maioria deles eram bispos, daí o nome de Padre, originalmente reservado aos bispos das comunidades; mas alguns eram sacerdotes simples, como Jerônimo, ou leigos, como Tertuliano. A doutrina posterior, para estabelecer a pertença ao grupo dos Padres da Igreja, indica como características fundamentais:

  1. ortodoxia na doutrina;
  2. santidade de vida;
  3. aprovação pela Igreja;
  4. pertencente à antiguidade cristã.

Os Padres da Igreja distinguiam-se graças a esta última característica dos doutores (homens e mulheres) da Igreja, que viveram e ensinaram na Idade Média e nos tempos modernos.

Os temas da patrística eram inspirados, em grande parte, de fora e correspondiam a uma necessidade legítima da época. O contato muito próximo com a filosofia helenística e a doutrina sapiencial, por exemplo, havia facilitado o perigo de não mais considerar o cristianismo como uma pura revelação divina, baseada na Sagrada Escritura e na tradição apostólica, mas de interpretá-lo erroneamente com especulações gnósticas sincretistas.

Além disso, desde os primeiros tempos, uma gnose, que em sua essência era absolutamente pagã, tentou se infiltrar no cristianismo, abusando da exegese alegórica da Sagrada Escritura para validar seu intrincado raciocínio sobre a criação e redenção do mundo, e misturando a herança genuína da revelação com teorias pagãs de forte cunho dualista.

Diante do perigo do gnosticismo, era necessário determinar exatamente os limites da fé cristã e as fontes da revelação, para fixar definitivamente o número daqueles escritos que constituíam a norma da fé e da moral (=cânon), estabelecendo um número preciso dos livros do cânon da Sagrada Escritura. Com o objetivo de esclarecer ainda melhor o caráter de inspiração divina precisamente para essas Escrituras e reservar a interpretação autêntica exclusivamente ao bispo!

A exegese bíblica arbitrária de hereges individuais foi assim oposta como norma e como única interpretação legítima a compreensão da Escritura no espírito da tradição apostólica (Traditio). O único critério que poderia garantir a pura conservação do patrimônio revelado, transmitido pelos apóstolos, residia na continuidade da tradição episcopal, que permanecia ininterrupta pela sucessão apostólica. Os Padres da Igreja, portanto, enfatizaram com extrema firmeza que a verdadeira gnose cristã só pode ser aquela que inclui a fé no sentido da tradição apostólica. A Ortodoxia só pode ser encontrada em união com os bispos, os legítimos sucessores dos apóstolos. Quem se separa do bispo certamente cai em erro.

A teologia científica cristã nasceu precisamente do contraste com a gnose e outras doutrinas heréticas. Os seus temas diziam respeito essencialmente à pessoa e obra de Cristo (cristologia), à obra salvífica de Cristo (soteriologia) e à sua relação com o Pai e o Espírito Santo (doutrina sobre Trindade). Esses foram, de fato, os principais tópicos que envolveram a meditação teológica nos séculos que se seguiram. E por isso quando abordamos a Mariologia na época Patrística ela se relaciona e complementa a verdade sobre Cristo, corresponde à história da salvação e evoca as diferentes relações de Maria com as pessoas da Santíssima Trindade. Filha do Pai, Mãe do Verbo e Templo do Espírito.

O Bispo Pedro de Alexandria

Depois de ter dirigido a escola catequética de Alexandria, foi eleito bispo desta cidade por volta do ano 300; ele morreu como mártir em 311. Apenas fragmentos de várias obras sobrevivem, em grego e nas antigas versões orientais. Uma homilia de Natal, muito posterior a ele, foi preservada em árabe sob seu pseudônimo.
O fragmento mariano que relatamos pertencia à obra Sobre a Divindade, hoje perdida; esta passagem foi lida publicamente no Concílio de Éfeso, no ano 431, confirmando a doutrina correta sobre a união hipostática das duas naturezas na Palavra.

Sobre a divindade

O evangelista também afirma a verdade, dizendo: «o Verbo se fez carne e habitou entre nós»; isto é, a partir do momento em que o anjo saudou a Virgem assim: «Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo». Essa expressão: «O Senhor está contigo» aqui, na boca de Gabriel, deve ser entendida no lugar de: «O Deus da Palavra está contigo». De fato, indica o Verbo que foi gerado no ventre e se fez carne, como está escrito: «O Espírito Santo virá sobre ti e a Virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o santo nascido será chamado Filho de Deus».
O Verbo Deus, porém, se fez carne no ventre da Virgem sem relação com o homem, pela vontade daquele Deus que tudo pode; nem precisava do trabalho e da presença de um homem: de fato, a Virtude de Deus que encobriu a Virgem juntamente com o Espírito Santo que desceu sobre ela, agiu muito mais poderosamente do que a virtude de um homem.

(De deitate, I,1,2,39)

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