Via Matris 3ª Estação: Santa Maria procura Jesus que ficou em Jerusalém

V. Nós te louvamos e te bendizemos, Senhor.
R. Porque associaste a Virgem Mãe à obra da salvação.
Do Evangelho segundo Lucas 2,41-52
“Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa. Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem. Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram o caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos. Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele. Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas. Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Respondeu-lhes ele: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”. Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera. Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas essas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens.”
A vida oculta de Nazaré permite a todos os homens entrar em comunhão com Jesus, pelos diversos caminhos da vida quotidiana:
«Nazaré é a escola em que se começa a compreender a vida de Jesus, é a escola em que se inicia o conhecimento do Evangelho […] Em primeiro lugar, uma lição de silêncio. Oh! se renascesse em nós o amor do silêncio, esse admirável e indispensável hábito do espírito! Uma lição de vida familiar Que Nazaré nos ensine o que é a família, a sua comunhão de amor, a sua austera e simples beleza, o seu carácter sagrado e inviolável. Uma lição de trabalho, Nazaré, a casa do Filho do carpinteiro! Aqui desejaríamos compreender e celebrar a lei, severa mas redentora, do trabalho humano. Daqui, finalmente, queremos saudar os trabalhadores de todo o mundo e mostrar-lhes o seu grande modelo, o seu Irmão divino.
O reencontro de Jesus no templo é o único acontecimento que quebra o silêncio dos evangelhos sobre os anos ocultos de Jesus. Nele, Jesus deixa entrever o mistério da sua consagração total à missão decorrente da sua filiação divina: «Não sabíeis que Eu tenho de estar na casa do meu Pai?». Maria e José «não compreenderam» esta palavra, mas acolheram-na na fé, e Maria «guardava no coração todas estas recordações», ao longo dos anos em que Jesus permaneceu oculto no silêncio duma vida normal.
Catecismo da Igreja Católica 533, 534
MEDITAÇÃO
Como última página das narrações da infância, antes do início da pregação de João Batista, o evangelista Lucas situa o episódio da peregrinação do menino Jesus ao Templo de Jerusalém . Esta é uma circunstância singular que ilumina os longos anos da vida oculta de Nazaré.
Nesta ocasião, Jesus revela com sua forte personalidade, a consciência de sua missão, dando a esta segunda “entrada” na “casa do Pai” o significado de uma entrega completa a Deus, que já caracterizava sua apresentação no Templo .
Esta passagem parece contrastar com a anotação de Lucas, que apresenta Jesus submisso a José e Maria (cf. Lc 2,51). Mas, olhando mais de perto, ele parece se colocar aqui em uma antítese consciente e quase deliberada com sua condição normal de filho, trazendo de repente uma separação decisiva de Maria e José. Jesus declara que assume, como norma do seu comportamento, apenas a sua pertença ao Pai e não os laços familiares terrenos.
Através deste episódio, Jesus prepara a sua mãe para o mistério da Redenção. Maria, junto com José, vive nos três dias dramáticos em que o Filho lhes tira para permanecer no Templo, a antecipação do tríduo de sua paixão, morte e ressurreição.
Ao deixar a sua Mãe e José partir para a Galileia, sem lhes dar a entender a sua intenção de permanecer em Jerusalém, Jesus introduz-os no mistério daquele sofrimento que leva à alegria, antecipando o que mais tarde realizaria com os discípulos por meio do anúncio de sua Páscoa.
Segundo o relato de Lucas, na viagem de volta a Nazaré, Maria e José, após um dia de viagem, preocupados e angustiados com o destino do menino Jesus, o procuram em vão entre parentes e conhecidos. Voltando a Jerusalém e encontrando-o no Templo, ficam maravilhados, porque o vêem “sentado entre os doutores, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas” (Lc 2,46). Sua conduta é muito diferente do habitual. E certamente a sua descoberta ao terceiro dia constitui para os pais a descoberta de outro aspecto relativo à sua pessoa e à sua missão.
Assume o papel de mestre, como o fará mais tarde na vida pública, proferindo palavras que suscitam admiração: “Todos os que o ouviam admiravam-se da sua inteligência e das suas respostas” (Lc 2,47). Revelando uma sabedoria que surpreende seus ouvintes, passa a praticar a arte do diálogo, que será uma característica de sua missão salvífica.
A Mãe pergunta a Jesus: «Filho, porque nos fizeste isto? Eis que teu pai e eu te procurávamos angustiados” (Lc 2,48). Aqui se pode captar o eco dos “porquês” de tantas mães diante dos sofrimentos que os filhos lhes causam, bem como das perguntas que surgem no coração de cada homem nos momentos de provação.
3. A resposta de Jesus em questão é cheia de significado: «Por que me procuravas? Você não sabia que eu tenho que cuidar das coisas do meu Pai?” (Lc 2,49).
Com esta expressão ele, de forma inesperada e inesperada, abre a Maria e José o mistério da sua Pessoa, convidando-os a ir além das aparências e abrindo-lhes novas perspectivas sobre o seu futuro.
Em resposta à Mãe aflita, o Filho revela imediatamente o motivo de seu comportamento. Maria havia dito: “Seu pai”, designando José; Jesus responde: “Meu Pai”, significando o Pai celestial.
Referindo-se à sua descendência divina, quer afirmar não tanto que o Templo, a casa do seu Pai, é o “lugar” natural da sua presença, mas que deve interessar-se por tudo o que diz respeito ao Pai e ao seu desígnio.
Ele pretende reiterar que somente a vontade do Pai é para ele a norma que vincula sua obediência.
Esta referência à dedicação total ao desígnio de Deus é destacada no texto evangélico pela expressão verbal “é necessário”, que aparecerá mais tarde no anúncio da Paixão (cf. Mc 8,31).
Seus pais, portanto, são solicitados a deixá-lo ir para cumprir sua missão onde a vontade do Pai celestial o conduz.
4. O evangelista comenta: “Mas eles não entenderam as suas palavras” (Lc 2,50).
Maria e José não percebem o conteúdo de sua resposta, nem a maneira, que parece ter a aparência de uma recusa, com a qual ele reage à preocupação deles como pais. Com esta atitude, Jesus pretende revelar os aspectos misteriosos da sua intimidade com o Pai, aspectos que Maria compreende sem saber como relacioná-los com a provação pela qual estava passando.
As palavras de Lucas permitem-nos conhecer como Maria vive este episódio verdadeiramente singular no seu ser profundo: “guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,51). A Mãe de Jesus liga os acontecimentos ao mistério do Filho, revelado a ela na Anunciação, e os aprofunda no silêncio da contemplação, oferecendo sua colaboração no espírito de um renovado “fiat”.
Começa assim o primeiro elo de uma cadeia de acontecimentos que levarão Maria a superar progressivamente o papel natural que deriva da sua maternidade, para se colocar ao serviço da missão do seu Filho divino.
No Templo de Jerusalém, neste prelúdio da sua missão salvífica, Jesus associa a si a sua Mãe; Ela não será mais apenas Aquela que o gerou, mas a Mulher que, com sua própria obediência ao Plano do Pai, poderá colaborar no mistério da Redenção.
E assim Maria, guardando no seu coração um acontecimento tão cheio de significado, alcança uma nova dimensão da sua cooperação na salvação.
João Paulo II, Redemptoris Mater 17
Ave Maria…
Amém
Oremos
Ó Deus que na Sagrada Família nos deste um verdadeiro modelo de vida, fazei que por intercessão de vosso Filho Jesus, da Virgem Mãe e de São José caminhemos entre os vários acontecimentos do mundo, sempre orientados para os bens eternos.
Por Cristo nosso Senhor.
AMÉM
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